Viola de 10 cordas construída para Adelmo Arcoverde - Nazaré da Mata/PE


Essa Viola de 10 Cordas foi construída para o grande Mestre Violeiro Adelmo Arcoverde. Primeiramente, gostaria de compartilhar o sentimento de emoção profunda de escutar as músicas de Adelmo nos instrumentos que construo para ele. O particular modo de compor e executar suas composições instrumentais para a Viola oferece ao construtor de instrumentos uma rica gama de possibilidades construtivas. Tenho acompanhado o trabalho do Mestre de perto há cerca de 7 anos. Essa relação entre o músico e o luthier possibilita os experimentos sonoros que podem ser pensados no ato da construção e, posteriormente, do tocar.

Esse instrumento tem uma concepção de construção pensada para ser um instrumento solista e de concerto, e é diversa a respeito da primeira viola que fiz pra ele. A primeira viola tem um realce nas frequências médias e agudas (próprio para instrumento solista). Já esta privilegia o equilíbrio das frequências graves, médias e agudas para uma maior definição entre as diferentes vozes do instrumento. As diferenças principais entre os dois instrumentos são o tamanho e formato da caixa acústica e o tipo de leque harmônico.

Nessa viola, a caixa acústica tem as medidas inspiradas em um violão construído, em 1848, pelo luthier espanhol Antonio de Torres (1817 - 1892). Esse formato de violão tem as medidas principais da caixa acústica um pouco reduzidas em relação ao modelo maior de violão que foi consagrado por Torres em 1854, e que utilizou diversas vezes em instrumentos posteriores. A escolha de utiliza-lo se deu, principalmente, pela vontade de obter um formato maior que na primeira viola. Isso significa um maior volume de massa de ar no interior da caixa acústica.

A característica sonora mais buscada e trabalhada para a construção desse instrumento foi de exprimir um realce na projeção acústica, para que o instrumento cumpra a função de ser apropriado para ser executado em recitais acústicos.

A escolha do "leque treliça" é outra característica particular desse instrumento. A escolha desse sistema se deu porque o leque harmônico em treliça adquire algumas particularidades em comparação com os sistemas de leque utilizados pela escola espanhola de Luteria.

Um conceito fundamental da Luteria é a diversa distribuição de massa (madeira) nas diversas partes que compõem o instrumento musical. No que diz respeito ao tampo do instrumento, a grosso modo, quanto menos massa mais realce das frequências graves. Se quiser realçar as agudas e médias, se usam madeiras com uma maior massa que têm a função de "travar" a madeira do tampo em pontos específicos e localizados.

Um exemplo é o contraste da concepção de distribuição de massa no tampo entre os instrumentos que utilizam "leque treliça" ou leque tradicional da escola espanhola. Enquanto no "leque treliça" o centro do diafragma é a área que possui menor massa (espessura mais "fina"), no leque da escola de Torrres essa massa é reduzida no lado posterior do diafragma, responsável pelos graves. Nesse instrumento, o centro do diafragma tem espessura mais fina e vai aumentando na medida que vai chegando nas "bordas" do tampo. Essa concepção aumenta os efeitos percussivos do instrumento quando as cordas são tocadas. A diversa distribuição de massa, na Luteria, se obtém com a escolha das madeiras a serem coladas na parte interna do tampo harmônico e com a respectiva espessura, localização e escolha da espécie de madeira utilizada para cada parte.

ESPECIFICAÇÕES:

Tampo: Abete rosso
Lateral e fundo: Jacarandá
Braço: Cedro
Filetes: Imbuia
Escala: Jacarandá
Trastes: Inox
Tarraxas: Individuais blindadas













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